Portugal é um dos países com mais consumo de álcool, por habitante. No entanto, é do conhecimento geral que o seu consumo em excesso tem efeitos negativos na saúde, para além de estar na base de muitos problemas sociais, familiares e financeiros.
Na maioria dos casos, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, é feito com o objetivo de desinibir e estimular mas, não é bem como se pensa… o álcool é um depressor que vai afetar as capacidades psicofisiológicas, mesmo se consumido em pequenas doses.
O álcool está nas principais causas de acidentes rodoviários, em Portugal, estando na origem de milhares de vítimas, todos os anos.
A maioria das pessoas desconhece que, o processo de absorção do álcool no sangue é bastante rápido, sendo que, apenas 5% é eliminado através da urina, suor e saliva e, o restante é absorvido através das paredes do estômago e do intestino delgado. O álcool vai ser transportado pelos vasos sanguíneos para órgãos, onde passa pelo fígado – chamado de purificador – é este órgão que, lentamente, vai fazer a sua decomposição, eliminando em média 0,1 grama de álcool por hora. Logicamente que, sendo levado a todos os órgãos, rapidamente chega ao cérebro, afetando as capacidades essenciais à tarefa da condução – cognitivas, motoras, etc…
Existem ainda, fatores que podem contribuir para que o processo de eliminação do álcool no organismo, seja ainda mais lento, como por exemplo, o tabaco, o café, o chá, etc., atrasando assim as funções normais do fígado.
É difícil determinar que quantidade de bebida uma pessoa pode ingerir, de forma a que as suas capacidades para o exercício da condução não sejam afetadas. O peso, a idade, a alimentação, o cansaço e até os estados emocionais, são alguns dos fatores internos que vão influenciar cada pessoa de forma diferente. Como tal, a mesma quantidade, da mesma bebida alcoólica, ingerida por várias pessoas, originará taxas de álcool díspares.
O álcool vai interferir com o SNC (Sistema Nervoso Central), o que pode trazer efeitos bastante negativos, como a sobrevalorização das próprias capacidades, perda de vigilância, perturbação das capacidades sensoriais, redução da acuidade visual, aumento do tempo de recuperação após encandeamento, aumento do tempo de reação, diminuição da capacidade de resposta.
Todos estes efeitos são negativos, tanto para o condutor que consumiu álcool em pequenas quantidades como para o que estará notoriamente embriagado, no entanto, estudos mostram que:
Torna-se mais perigoso aquele que consome em quantidades mais reduzidas, uma vez que este, insistirá em conduzir afirmando que está em perfeitas condições, ao invés do que está completamente embriagado que, dificilmente tentará conduzir.
O tempo de reação é dos mais afetados e muitas vezes, desvalorizado. Na presença de um obstáculo, o condutor tem de conseguir reconhecer o obstáculo, decidir e, agir, em média, em 1 segundo. Ora, se o álcool interfere no SNC, é impossível que o tempo de reação não aumente, pois o tempo que decorre desde a perceção do obstáculo até ao momento de acionar o travão é, inevitavelmente superior.
Estima-se ainda que, o risco de ocorrer um acidente mortal, aumenta à medida que aumenta também a concentração de álcool no sangue, conforme apresentado a seguir:
Relembre agora, as infrações ao código da estrada, relativamente ao consumo de bebidas alcoólicas:
Contraordenação |
Grupo I |
Grupo II* |
Sanção Acessória |
Grave |
≥ 0,50 g/l a 0,79 g/l |
≥ 0,20 g/l a 0,49 g/l |
Inibição de conduzir de 1 mês a 1 ano |
Muito Grave |
≥ 0,80 g/l a 1,19 g/l |
≥ 0,50 g/l a 1,19 g/l |
Inibição de conduzir de 2 meses a 2 anos |
Crime |
≥ 1,20 g/l |
≥ 1,20 g/l |
Inibição de conduzir de 3 meses a 3 anos
Prisão até 1 ano ou multa até 120 dias |
No entanto, mais importante do que saber se, está ou não infringir, o Código da Estrada, é preciso desmistificar a ideia de que “só acontece aos outros” e, a realidade é bem mais negra do que julgamos. Enquanto andamos ocupados no nosso dia a dia, não nos apercebemos da quantidade de condutores com que nos cruzamos, que estão sob o efeito de bebidas alcoólicas e, caso seja você, um desses condutores, é importante lembrar-lhe que, uma cerveja com os amigos, depois de um dia de trabalho, pode ser o suficiente para não regressar a casa ou, para que alguém não regresse a casa. Para além da pessoa que perde a vida num acidente, não nos podemos esquecer do sofrimento causado aos familiares e amigos e, dos problemas psicológicos que o autor do acidente vai ter, entrando muitas vezes num estado depressivo de onde se torna muito difícil sair.
Segundo os dados estatísticos, entre 2010 e 2019, conforme o gráfico 1, a percentagem de condutores infratores não teve uma variação muito grande, sendo que, a percentagem, em todos os anos em análise, dos condutores com mais de 1,2g/l, é bastante elevada.
Isto significa que, quase metade dos condutores que estavam sob o efeito do álcool, apresentavam taxas consideradas como crime. Se associarmos os efeitos do álcool na condução e o aumento do risco de acidente, tendo em conta a taxa, a probabilidade de ocorrer um acidente mortal é gigantesca.
No gráfico 2, temos a percentagem de condutores, segundo a taxa de álcool no sangue e, por tipo de lesão, conseguimos assim, verificar que a percentagem de vítimas mortais está diretamente relacionada com os condutores que têm as taxas mais elevadas de álcool no sangue, provando-se com esta análise, o aumento do risco da ocorrência de um acidente com o aumento da taxa de álcool.
É urgente a mudança de comportamentos, não é só necessária a evolução dos veículos, que se dizem, cada vez mais seguros, se depois a atitude do condutor se mantiver inalterada. É preciso entender que, o álcool é uma droga, e é preciso ganhar-se a consciência de que, todos os dias morrem pessoas nas estradas, vítimas deste inimigo, muitas vezes, invisível, quer seja o condutor que está sob efeito de bebidas alcoólicas ou, outro qualquer condutor, passageiro ou peão, que estava no sítio errado, à hora errada.
Seja responsável!