À medida que nos aproximamos do Dia dos Namorados, há uma razão neurofisiológica para estarmos gratos aos nossos entes queridos: as relações sociais protegem-nos contra o stresse e mantêm-nos saudáveis.
Há muito que se sabe que relacionamentos sociais de alta qualidade reduzem o stresse e estão associados a vidas mais longas, felizes e saudáveis. Mas a neurofisiologia subjacente a essas ligações permaneceu indefinida.
Imagine esta situação, um desentendimento com os seus colegas de trabalho deixa-o/ a abalado e, no caminho para casa, quase sofre um acidente. Depois entra em casa e percebe que se esqueceu de passar pelo takeaway para comprar o jantar. À medida que a sua frustração aumenta, o/ a seu parceiro/ a entra pela porta e, com um abraço e algumas palavras ternas, fá-lo sentir outra vez com energia. Com este abraço e esta troca de palavras você encontrou forças para superar o fim de um dia difícil.
Explicar este fenómeno simples – o poder da conexão humana – tem sido tentado por diversas disciplinas e áreas do conhecimento ao longo dos tempos, das mais científicas às mais filosóficas. Hoje, partilho convosco o conhecimento gerado por vários estudos realizados por psicólogos do Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade da Virgínia, nos EUA, nos últimos 20 anos. Estes investigadores usam técnicas de imagem (FMRI – imagem por ressonância magnética funcional) aplicadas ao cérebro para examinar a neurofisiologia das relações sociais e o seu impacto potencial, e as suas experiências têm permitido sintetizar e expandir o conhecimento nas áreas de plasticidade cerebral e das relações sociais para entendermos melhor como o amor atua como mecanismo protetor e nos ajuda a manter saudáveis.
Estes psicólogos desenvolveram uma experiência que designaram por “paradigma das mãos dadas” e que consiste em medir a reação do participante ao stresse (através de FMRI) enquanto aguarda receber um choque elétrico sozinho e medir a reação ao stresse numa mesma situação, mas em que o participante está de mãos dadas com um ente querido. A descoberta que fizeram é surpreendente. Apenas segurar a mão de uma pessoa amada oferece proteção contra o stresse de um choque elétrico iminente. Os investigadores deste laboratório demonstraram este efeito de segurar as mãos numa variedade de relações sociais, incluindo parceiros românticos, amigos íntimos e, pais e filhos.
Para perceberem melhor a importância dos laços afetivos que permitiam estes resultados fantásticos, conduziram uma outra experiência com 22 casais que eram muito infelizes nos seus relacionamentos, e descobriram que segurar as mãos não os protegia de forma alguma contra situações de elevado stresse, ao contrário do que sucedia com casais que se sentiam muito felizes nos seus relacionamentos.
Mais recentemente, em 2017, também usaram o paradigma das “mãos dadas” para explorar a ligação entre as relações sociais e a saúde física e verificaram que ficar de mãos dadas com um ente querido durante uma situação de elevado stresse diminui a atividade relacionada com a ativação do hipotálamo (medida por FMRI), impedindo-o de descarregar níveis prejudiciais de cortisol para a corrente sanguínea. Esta descoberta ajuda a prever a saúde geral dos indivíduos no futuro, uma vez que o hipotálamo contribui, de entre outros, para regular os níveis de cortisol na corrente sanguínea.
- A função do cortisol é ajudar o organismo a controlar o stresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imunitário e manter os níveis de açúcar no sangue constantes, assim como a pressão arterial.
Os resultados destes estudos vêm comprovar que a nossa saúde e felicidade dependem de estarmos inseridos em redes sociais confiáveis (podemos estar a falar do amor romântico dos casais, do amor que sentimos pelos amigos próximos, mas também do amor entre pais e filhos).
Portanto, para o bem da nossa saúde, física e psicológica, vamos dedicar-nos a nutrir o amor pelos nossos entes queridos.
Vamos a isso!