Num mercado complexo e interligado, o desempenho organizacional está constantemente sob escrutínio, ao ponto de podermos dizer que aquilo que a nossa marca é, não é mais o que dizemos dela, mas sim aquilo que a opinião pública (seja sob a forma de acionistas, clientes, fornecedores, colaboradores, comunidade, etc.) diz sobre ela.
Ou seja, é na relação com as outras partes interessadas que vamos construindo o nosso posicionamento no mercado.
O respeito pelos interesses das diferentes partes interessadas é um dos 7 princípios da Responsabilidade Social definidos pela norma ISO 26000 (2010).
Foquemo-nos, então, numa dessas partes interessadas – os fornecedores – para abordar duas dimensões que podem fazer a diferença na construção do nosso percurso como empresa socialmente responsável: a seleção dos fornecedores e o pagamento dentro do prazo.
A escolha dos fornecedores é um dos momentos em que podemos aprofundar a nossa política de responsabilidade social. Não contratar produtos/serviços com empresas que não respeitem a legislação laboral, que não garantam boas condições de trabalho aos seus colaboradores, que usem métodos comerciais ilícitos ou que não tenham em atenção a proteção do ambiente são princípios básicos que devem nortear a atividade comercial de qualquer organização e que cada vez mais se tornam numa vantagem competitiva.
É necessário que os requisitos de seleção dos fornecedores sejam bem claros dentro da empresa, de forma a que qualquer trabalhador saiba exatamente como deve atuar na aquisição de bens e serviços. O Código de Ética é um precioso auxiliar na tomada de decisão num mercado complexo e de frequente conflito de interesses.
Este instrumento orientador permite também aos seus potenciais fornecedores conhecer quais as regras e requisitos para negociar com a sua empresa. Por outro lado, a relação com fornecedores pode ser também uma oportunidade para sensibilizar outras organizações da importância de implementar práticas de responsabilidade social.
Falemos agora de outra questão ética: o pagamento dentro do prazo acordado. Essa não é uma prática comum no mercado português, o que penaliza a sua dinâmica e atinge com maior intensidade as PME (99,9% do tecido empresarial nacional), chegando a pôr em causa a sua sustentabilidade.
Se muitas vezes o atraso está relacionado com dificuldades financeiras, em mais de metade das situações as faltas de pagamento são intencionais (Relatório Europeu de Pagamentos 2016). A redução de liquidez gerada penaliza também o mercado de trabalho, pois 1/3 das empresas inquiridas refere que se os seus clientes pagassem atempadamente, poderiam aumentar o número de postos de trabalho.
Ganhariam as empresas, ganharíamos todos nós. Em termos de práticas comerciais, as organizações podem dar provas de boas práticas de responsabilidade social, contribuindo para que pagar “a horas” se torne uma regra e não uma exceção. Muitas vezes é uma questão de se reavaliar quais os pagamentos e os recebimentos que se têm que fazer. Num mercado onde pagar dentro do prazo não é a regra, este é um fator atrativo para os potenciais fornecedores.
A aplicação dos princípios de responsabilidade social por uma empresa tem efeito de contágio, pois introduz no mercado maiores critérios de exigência. Lucro e sustentabilidade fazem, cada vez mais, parte da mesma equação.
As medidas de Responsabilidade Social conduzem a empresas bem reputadas, mais rentáveis e competitivas.